A ideia era coletar depoimentos de famílias estrangeiras que se estabeleceram em Utinga, criando raízes e expandindo-se por nossa terra.
Muitas famílias aqui permaneceram e se adaptaram e se multiplicaram: portugueses, Italianos, espanhóis, argentinos, uruguaios, alemães, poloneses, japoneses, cabo-verdenses e angolanos, ingleses, americanos, armênios, sírio-libaneses e coreanos.
Todos tem sua história e a maioria se deu muito bem. Muitos se fixaram em nosso sub-distrito.
Mas também ocorreu um processo inverso: Uma emigração. É o que transcrevo a seguir, íntegra do comovente depoimento de uma ilustre ex-utinguense: Maria Luiza Mezzone Alati.
"Meu pai Vincenzo Mezzone nasceu na cidade de Sora, Itália em 1915. Depois de lutar na segunda Guerra Mundial, casou com minha mãe: Angelina Di Pede em 1948. Não podendo achar trabalho depois da guerra, na Itália, ele imigrou para o Brasil e desembarcando na cidade de Santos em Dezembro de 1948 na idade de 33 anos. Deixando minha mãe na sua terra natal, chegou a São Paulo sozinho, trabalhou em varias atividades inclusive de vendedor ambulante de produtos domésticos. Em 1949, um ano depois, porque terrenos custavam muito menos nos subúrbios da grande São Paulo, ele comprou um terreno na Avenida dos Estados entre a Avenida da Paz e Rua Londres o terreno de fronte ao Rio Tamanduateí que naquele tempo era um riozinho, nada como hoje. Minha mãe, com meu irmão com já cinco anos, que ele deixou na Itália de infante apenas nascido, os seguiram e chegaram em Utinga no mês de Agosto 1953. Juntos eles dois construíram uma humilde casa naquele terreno. Um cômodo após o outro, dependendo na possibilidade de comprar o material e o tempo que ele tinha depois de retornar de seu trabalho noturno na Ardea, (uma divisão do Grupo Matarazzo). A vida foi sacrificada e simples, mas ele chegou a completar a casa onde moramos toda nossa vida em Utinga, e durante o qual tempo nascemos: eu em 1954 e uma irmã em 1959. Com meu irmão Toninho, eu e minha irmã Angélica fomos educados no Grupo Escolar João de Barros Pinto na Rua Londres esquina com a Rua Berlim. Meu irmão que era mais velho chegou a se formar com o diploma ginasial no "Amaral Wagner", que naquele tempo estava localizado no mesmo prédio.
* Tecelagem Zarzur
**Rotatória.
Muitas famílias aqui permaneceram e se adaptaram e se multiplicaram: portugueses, Italianos, espanhóis, argentinos, uruguaios, alemães, poloneses, japoneses, cabo-verdenses e angolanos, ingleses, americanos, armênios, sírio-libaneses e coreanos.
Todos tem sua história e a maioria se deu muito bem. Muitos se fixaram em nosso sub-distrito.
Mas também ocorreu um processo inverso: Uma emigração. É o que transcrevo a seguir, íntegra do comovente depoimento de uma ilustre ex-utinguense: Maria Luiza Mezzone Alati.
Familia Mezzone em Utinga (1949-1967)
As poucas coisas que ficaram na minha memoria daquele tempo além das pessoas, foram lugares como a Cisul, e Loja Rezende onde meu pai comprava materiais de construção. A feira na Avenida Utinga, as lojas "Lev Pag", a padaria na esquina da Rua Berlim com a Avenida da Paz, a loja da Dona Maria perto da estação de trem, a churrascaria do Sr. João e a Dona Peppa, (que ficaram íntimos amigos de meus pais) a SESI e algumas outras lojas onde minha mãe fazia compras. O campinho da fabriquinha* lá no fundo da Rua Londres onde meu irmão jogava futebol ou jogava bolinhas com seus amigos, passeios no Jardim Utinga e Santa Teresinha com minhas amigas. A Igreja Santa Maria Goretti onde aprendi a rezar e fiz minha primeira comunhão e onde fiz amizades com meninos e meninas que faziam parte de outras escolas do nosso bairro, a estação de trem de Utinga onde lembro meu pai levando nossa família para a grande cidade de São Paulo ou para visitar amigos de infância dele, que moravam na Vila Patriarca, a garoa típica de São Paulo, os temporais que causaram muitas enchentes ao nosso redor. Tudo isso que hoje parece só um sonho, fizeram grande parte de uma infância muito memorável e feliz.
Em 1966 a prefeitura de Santo André apresentou aos meus pais, os planos futuros da cidade com uma carta e o mapa de Santo André e Utinga, indicando que nossa casa iria ser desapropriada com intenções de fabricar um balão** para aliviar o tráfego da Avenida dos Estados que iria ser alargada e a ponte na Avenida da Paz que ia ser derrubada e reconstruída na direção da Rua Londres dando lugar ao balão**. O plano indicava também que o rio Tamanduateí iria ser alargado para evitar enchentes que aconteciam quase todos os anos naquele local.
No desespero de perder a casa em que ele se sacrificou tanto, e com uma indenização ínfima de parte da prefeitura, meu pai com minha mãe decidiram deixar o Brasil e vir para o Canadá, onde moravam alguns dos parentes de minha mãe e, em Agosto de 1967 meu pai com minha mãe e nós os três filhos) mudamos para o Canada onde vivemos ate hoje. Meus pais nunca deixaram de amar a querida Utinga, e mesmo que o sonho de voltar antes de eles falecerem nunca foi realizado, eles nunca deixaram de pensar naquele cantinho do mundo em que, nos 18 anos da vidas deles, nos deu a oportunidade de conhecer amigos eternos e pessoas que vão sempre fazer parte de nossas vidas, como as famílias: Mayo, Oliveira, Quillen, Nunes, Rezende, Serasinskis, Capelari Gabriele, Lopes, Thiegui, o Sr. Gino o sapateiro no alto da rua Londres e muitas outras; Dona Jandira muitos deles com quem ainda mantenho contato ate hoje. Em 1979 eu e meu irmão, voltamos a visitar nossos amigos, mas a nossa casa já não estava mais lá, e o cenário nem parecia mais o lugar que nos tínhamos deixado 12 anos antes".
* Tecelagem Zarzur
**Rotatória.
Me emocionou sua história, sou do Bairro Campestre.
ResponderExcluir